O Status quo da Comunicação Interna no Brasil

Um apanhado geral das ideias e aprendizados do 16º Congresso de Comunicação Interna

do IBC realizado nos dias 13 e 14 de junho em São Paulo.

A oportunidade de presidir a mesa do 16º Congresso de Comunicação Interna me trouxe uma responsabilidade. A tarefa de organizar as informações lá trocadas e compartilhá-las com a comunidade de comunicação, que hoje é muito ampla e diversa. Por isso, resolvi escrever esse artigo.

Hoje temos profissionais atuando em inúmeros segmentos de mercado. Eu mesma sou sócia de uma agência, a KlaumonForma, e diretora de uma Associação, a Abracom, que representei no evento. Os palestrantes foram profissionais de organizações nacionais ou multinacionais. Quando nós comunicadores reunimos nossas vivências profissionais nos tornamos mais fortes, e identificamos as tendências e quais soluções adotar.

A base de um sistema de comunicação é as pessoas, que ao assumirem funções de gestão, atraem para si um grande desafio: interagir e se relacionar com suas equipes, com seus liderados. Essa foi a grande ênfase das colocações durante o Congresso.

O contato direto com a liderança para que os objetivos sejam postos de forma clara foi uma recomendação quase que constante em todas as apresentações. Este modelo garante o alinhamento da mensagem desde o topo da pirâmide até a base. Alguns palestrantes chegaram a afirmar que seu principal meio de comunicação interna, hoje, são os líderes. Outros que gestores são reforço e embasamento para as mensagens. O líder é o canal de comunicação com os liderados. Os demais canais são suporte. Uma das reflexões mostrou o ganho gerado pelo aperfeiçoamento da comunicação entre gestores e equipe, como parte do planejamento de Comunicação e Marketing, sem o qual não se prepara o ambiente interno para fazer a entrega da Missão, para satisfazer a necessidade do cliente. Nesse processo estão as pessoas que precisam se comunicar.

De fato e independente do processo de comunicação, a sociedade do conhecimento molda profissionais para se relacionarem e confiarem informações uns aos outros. Tanto que algumas informações são comunicadas só pessoalmente, conforme determinado em Políticas Internas e Planos de Prevenção de Crises apresentados no Congresso. Informação confidencial tem limites e a comunicação deve reconhecer os níveis de maturidade de cada gestor para bem prepará-los.

Isso porque o cenário interno está em movimento, é complexo, formam-se novas relações de trabalho a cada dia que exigem profissionais cada vez mais prontos para assumirem responsabilidades e serem auto gerenciáveis. Nesse sentido, mais um achado do Congresso foi a importância em se olhar a gestão do comportamento organizacional. Uma premissa conjunta de RH e Comunicação com o objetivo de construir a cultura e formar gestores para a comunicação fluir. Hoje a cultura determina a comunicação interna. E a boa comunicação interna depende das relações e da vontade das pessoas.

Enxergar organograma da empresa em elos, simbolizando interligações foi outro aprendizado. A cadeia de valor organizacional demanda relações cada vez maiores, e essas relações demandam algo que as conduza e outra, a comunicação. O elo está em todos saberem sua missão dentro da empresa, a partir da própria Missão Corporativa.

Se por um lado reprograma-se o papel do gestor, por outro o empregado exige oportunidades para aprender e se desenvolver. Quando o ranking das melhores empresas para se trabalhar, que são sondagens baseadas nas percepções do público interno, revelam suas listas, indicam que uma liderança preocupada com o bem estar dos empregados gera resultado positivo para os negócios. Há, portanto, uma clara relação entre engajamento e rentabilidade. O funcionário tem um forte desejo de exercer sua profissão e seu engajamento se manifesta pela forma como toma decisões. Uma comunicação interna estratégica provê esse funcionário de informações e conteúdos capazes de ajudá-lo a compreender a missão da empresa e seu papel, para que ele tome a decisão correta.

Cabe à empresa mostrar o orgulho de trabalhar com o funcionário para que ele devolva em desempenho. Por sua vez, cabe à comunicação gerar sentido sobre o trabalho, divulgando o valor e para quê os profissionais estão contribuindo. As percepções são construídas por boa comunicação, que se traduz em motivação pelo trabalho. Devemos pensar que as atividades e o emprego são os produtos a serem vendidos internamente. Como um dos princípios do endomarketing, vamos preparar a empresa para entregar sua missão, de forma afetiva, humanizando as relações. O negócio é sério, mas as relações precisam de leveza.

Segundo o consultor TJ Larkin, os funcionários entendem o que é valor a partir do comportamento da liderança. Eles vão adotar esses valores somente se eles estiverem convencidos de que esses valores lhes permitirão atingir os seus objetivos pessoais. A liderança é a empresa para o funcionário. E devido a essa posição, dissemina as atitudes positivas e dá exemplo dos comportamentos esperados.

Por isso, a comunicação interna atua além da informação. Ao entender, atender e antecipar as necessidades estratégicas dirige mensagens que geram sentido e provocam o fortalecimento dos laços afetivos dentro do ambiente de trabalho. Qual a razão e o sentido do feedback, se não o avivamento dos valores? Avaliar as atitudes é ir além dos valores, é praticá-los e usá-los como referência para os comportamentos esperados.

O comportamento de marca ou brand behaviour como colocado por um dos palestrantes, faz parte das iniciativas de comunicação interna. Vem da conexão com a comunicação externa. Importante ter a visão do todo para atender a estratégia. O profissional de comunicação deve saber falar com os dois públicos, tanto interno quanto externo. E a comunicação interna deve informar, integrar e estimular o comportamento de marca. E para estimular, falar de pessoas.

Para reforçar o comportamento de marca, escolha um tema por ano, crie campanhas integradas que reforcem a estratégia, integre as pessoas aos objetivos de venda, de mercado e do negócio. Ajude o RH a viabilizar oportunidades de motivação. Use a comunicação interna para engajar, para aumentar o compromisso do funcionário com a empresa, por prazer, porque gosta, porque quer. Grandes ideias desconectadas da estratégia são inócuas, lembrou um congressista.

Fazer gestão dos comportamentos significa treinar gestores para que eles nos ajudem a atrelar esses comportamentos aos resultados do negócio. Um processo com objetivos e a metodologia do BSC ajudam muito a associar as ações de comunicação ao negócio.

A questão é: qual a nova estratégia e o novo uso que vamos dar aos canais? Que veículos devemos utilizar para engajar? Alguns palestrantes analisaram que há uma distância psicológica pelo excesso de confiança no meio eletrônico. A distância virtual dificulta a adoção de um modelo mental único. Ou seja, falta conversa dentro das organizações, falta troca. Se os colaboradores querem receber as informações de seus líderes imediatos, anseiam pela estratégia e tem dificuldade de entender qual é o seu papel nela, a comunicação deve promover o diálogo.

Como recomendação do Congresso, defina antes aonde quer chegar para depois definir os meios. Às vezes, a formação de comitês empodera muito o processo de comunicação, porque é uma forma colaborativa de projetar e traz proximidade com realidades diferentes dentro da empresa. Os comitês também formalizam a comunicação que já acontece nas entrelinhas. Essa forma de autonomia assistida funciona.

Negócio Verde

A economia Brasileira é cada vez mais verde. Desenvolvimento sustentável é o único discurso possível para quem quer se manter no mercado. Porém, praticar sustentabilidade é só o começo de um processo amplo e desafiador para as empresas. Elas precisam ter capacidade e competência de transmitir esse conceito a clientes, fornecedores, imprensa e investidores.

O primeiro passo nesse sentido é fazer com que a sustentabilidade esteja na medição do desempenho da empresa, se fazendo presente no relatório contábil. Ou seja, aquele volume ‘separado’ que as companhias chamavam de balanço social, passará a fazer parte de um único material, associado aos resultados financeiros.

Isso posto, seu público interno precisa enxergar a sustentabilidade no dia a dia, para que sejam porta vozes do tema. Para tanto é necessário fazer a gestão da sustentabilidade, alinhando a estratégia de negócio com as políticas de desenvolvimento verde.

E a sustentabilidade vai muito além: é preciso pensar em produtos verdes, com embalagens idem, comprometer fornecedores em toda cadeia produtiva, estabelecer políticas ambientais, e contar, cada vez mais, com especialistas no tema, seja qual for sua área de atuação.

Pois é. Se precisamos pensar um futuro mais verde. Não tem mais jeito os negócios também tem que ser verdes. Business is green.