Arquivo mensal: maio 2013
Os desafios da Comunicação para o Desenvolvimento Organizacional Abordagem apreciativa, um jeito positivo de encarar as mudanças
Dia 30 de abril conversamos com Vânia Bueno, que há 25 anos atua na área de comunicação e há 7 escolheu dedicar-se, como consultora, à pesquisa e aplicação de práticas inovadoras para o desenvolvimento organizacional, com foco na visão sistêmica, abordagem apreciativa e construção de consenso para o desenvolvimento sustentável.
Vania considera que reaprender a conversar de forma apreciativa é o trabalho de comunicação mais relevante no momento de macrotransição que estamos vivendo. Enquanto muitas metodologias de gestão e de desenvolvimento organizacional buscaram nas últimas décadas descobrir “onde estão os gaps ou o que falta nas pessoas e nas empresas”, a abordagem apreciativa inova ao propor estratégias para o desenvolvimento de indivíduos, organizações e comunidades a partir de seu potencial.
Para entender melhor, vamos começar pelo começo. A abordagem apreciativa é ampla e diz respeito à forma como escolhemos observar e compreender a realidade: olhar para a metade cheia do copo. Já a Investigação Apreciativa é uma metodologia desenvolvida para romper paradigmas tradicionais de planejamento estratégico. Sua inovação começa pela valorização da diversidade ao estimular a inclusão de todas as partes interessadas (stakeholders) no processo de tomada de decisão. Criada nos anos 90 por David Cooperrider, PhD e Ron Fry, PhD, em suas pesquisas na Case Western Reserve, Cleveland/Ohio, a metodologia já foi aplicada em centenas de empresas em todo o mundo e referendada em sua dimensão global pela facilitação do Leaders Summit, encontro que reuniu 600 líderes das maiores corporações do planeta para a criação do Pacto Global e seus 10 princípios, na sede da ONU em 2004.
Partindo do pressuposto de que toda organização possui algo que funciona bem, a Investigação Apreciativa identifica e valida experiências de sucesso como marco inicial para a criação de mudanças positivas. De acordo com Cooperrider, Investigação Apreciativa é a busca cooperativa e co-evolucionária pelo que há de melhor nas pessoas, suas organizações e o mundo ao seu redor.
Envolve a arte e a prática de questionamentos que testam a capacidade dos sistemas de apreenderem, anteciparem e aumentarem seu potencial positivo. A origem do termo “Investigação Apreciativa” está na junção dessas duas palavras que sintetizam, no conjunto, o que se deseja da ferramenta. Investigar é fazer perguntas, explorar, descobrir. Apreciar diz respeito à valorização e ao reconhecimento, ao raciocínio e avaliação.
Uma experiência realizada por Charles Elliot, da Universidade de Cambridge (1999) solicitou a um grupo de 45 executivos que completassem, em uma folha de papel, a frase “Minha organização é…”, com vinte adjetivos que pudessem livremente escolher, num espaço de tempo de dois minutos. O resultado foi:
Tipo de resposta | Percentual |
Palavras de crítica, negativas ou hostis (ex: caótica, ineficiente, vagarosa, descuidada, entre outras) | 72% |
Palavras neutras (ex: média, pouco ambiciosa, como as outras, entre outros) | 13% |
Palavras positivas, de aprovação (ex: criativa, excitante, determinada, orientada ao resultado, entre outras) | 15% |
Fonte: Adaptado de Elliot (1999, p. 09 – tradução livre).
Enquanto a cultura predominante trata as organizações como problemas a serem resolvidos, a Investigação Apreciativa propõe que sejam analisadas como mistérios a serem desvendados. Entende, ainda, que a linguagem constrói a realidade, e aponta o risco diante da constatação de que existe um repertório muito mais extenso para nominar as deficiências de indivíduos e organizações do que para nomear suas forças e atributos positivos.
Vânia acredita que a Investigação Apreciativa é um estímulo a mudar o modelo mental que coloca foco no que falta, nas deficiências e nos erros, alimentando o medo, a baixa autoestima e a insegurança. Em contrapartida, investigar forças e talentos gera empoderamento, motivação e colaboração. A escolha pela forma de observar e definir a realidade, gera a ação que deteriora, mantém ou aprimora o sistema. Fazendo uma analogia, é como escolher entre cuidar do corpo observando os sintomas da doença ou inspirado pelo bem estar e pela manifestação da saúde.
Apontam estudos que o ser humano muda movido pelo medo ou pela esperança. A prática mostra que o medo nos faz pensar em mudar, mas a neurociência prova que a esperança produz mudanças mais rápidas, consistentes e prazerosas. A Abordagem Apreciativa se presta a fortalecer a capacidade da pessoas e das organizações de aprender, antecipar e reforçar seu potencial positivo. Ao invés da negação, críticas e espiral de diagnósticos negativos, estimula a descoberta, o sonho e uma forma de cumprir este destino.
Pressupostos da Investigação Apreciativa:
- Em organizações, grupos ou indivíduos há talentos e habilidades únicas.
- Onde colocamos nosso foco ali também estará nossa energia.
- A linguagem que usamos cria a nossa realidade.
- O ato de fazer uma pergunta inicia a mudança.
- As pessoas se sentem mais confiantes em uma jornada ao futuro, quando podem levar o melhor de seu passado.
Algumas questões:
A Abordagem Apreciativa não pode ser confundida como não encarar os fatos?
Segundo Vania, não, pois a metodologia não desconsidera problemas e obstáculos inerentes a todas as dinâmicas, mas os entende como parte do processo e não como finalidade da ação. O que se quer é conquistar o sonho. Superar adversidades é parte do caminho e, para isso, é possível contar, preferencialmente, com ações de mediação, parceria e diálogo. Mesmo diante dos problemas é possível ter uma atitude apreciativa.
Se o foco é olhar o potencial, não o gap, como gerar o desenvolvimento?
Não se trata de não conhecer ou desenvolver os gaps, isto sempre é possível e desejável. O que se propõe é que não se olhe apenas para eles. Focar o sonho, que é sempre maior do que aquilo que se tem, funciona como força propulsora, nos estimulando a fazer um esforço extra, a ser e fazer o melhor, responde Vânia com muita segurança.
Quando um grupo trabalha motivado pelo mesmo sonho e somando o seu potencial, o resultado é um grande poder criativo capaz de gerar as inovações que os dilemas atuais demandam.
As 4 etapas da Investigação Apreciativa como ferramenta para planejamento estratégico
1ª etapa: identificar os potenciais – DESCOBERTA (identificar os ingredientes para o sucesso)
Baseada em entrevistas e diálogos nos quais o grupo compartilha experiências de engajamento, superação e conquistas.
2ª etapa: expressar o que desejamos, o que é capaz de nos mover – SONHO (criar esperança)
Visões de futuro são construídas a partir das experiências de sucesso do passado.
3ª etapa: definir ações para realizar o sonho – PLANEJAMENTO
Fazer com que o sonho se integre às ações e dinâmicas do dia-a-dia. Criar infraestrutura, gerar crescimento, bem como, superar obstáculos
4ª etapa: fortalecer a capacidade de engajamento para a concretização do sonho DESTINO
Promover ações que mantenham o sonho vivo, nutrindo o senso coletivo de propósito.
Do que dependemos para mudar de fato e perseguir com coerência?
Segundo Vania, de…
• um ambiente democrático, transparente e justo
• consciência e ação coletiva
• processos de comunicação responsável e influente
• visão e ação sistêmicas
• Buscar o melhor em nós, no outro e no meio.
O encontro mexeu com os presentes, profissionais do Banco Bradesco, Helibras, Inform Group, Liberty Seguros, Natura e Valspar, que citaram, como palavras de conclusão, a seguinte nuvem:
E a conversa continua por aí!