114º Pão com Manteiga: A Gestão da espiritualidade como diferencial competitivo nos negócios

Case: gestão espiritual no planejamento estratégico da ACSC

Como todas as congregações religiosas, a Associação Congregação de Santa Catarina (ACSC) vive o desafio de manter sua missão original. Foi por esse motivo que Celso Benedito Tomba chegou a Coordenador Corporativo de Espiritualidade da ACSC, e o convidamos para o 114º Pão com Manteiga. Celso trabalha para manter a identidade corporativa da Congregação e suas obras – de assistência à saúde, social e educacional.

A recente função de Celso é fomentar a vivência da espiritualidade no dia-a-dia, que vai além do atendimento religioso nos hospitais e nas salas de aula da Congregação. A pergunta é: como eu preservo a cultura organizacional? E a resposta começa pela filosofia de cultuar os valores da Congregação. A espiritualidade se encaixa na necessidade de se desenvolver o humano, de trabalhar a consciência do profissional. Tudo começa no processo seletivo para admissão dos profissionais que farão parta da Congregação. “Buscamos candidatos que tenham em seus valores pessoais os valores da Congregação, que teve origem na religião católica”, explica Celso. “Importante dizer que espiritualidade independe da experiência religiosa. Ela transcende as relações comigo mesmo, com o outro e com o cosmos”, acrescenta. Por isso, implica em novos modelos de gestão do negócio e de pessoas, reflexão que compartilhou com os presentes: Luciana Lima, da Lugadeli, Elaine Watoniki, da Helibras, Janice Ramalho e Wânia Rodrigues, da Carreiras e Recursos Humanos.

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Redescobrindo a missão: capitalismo consciente e aplicação da espiritualidade na estratégia

Qual a nossa relação com o trabalho? Para Fernando Ferragino, também convidado para este Pão, muitos pensam em obrigação e subsistência e alguns em realização, significado e emoção. Para o capitalismo consciente, os quatro princípios norteadores das relações no trabalho são: valores centrais, cultura que os dissemine, liderança preparada e interligação de stakeholders. Um processo em cadeia, em sintonia.

Uma leitura bem oportuna que fiz um dia antes do Pão, trouxe insights riquíssimos sobre o tema. Foi na revista Página 22, da FGV, edição97, de agosto de 2015. Nela, há uma entrevista espetacular com o doutor em História Social da USP, Leandro Karnal, que considera que vivemos um momento guiado pelo sentido. O pensamento predominante é o de causa e efeito, por isso buscamos a lógica, afirma ele. Entretanto, a ciência de ponta hoje trabalha com coisas um pouco menos objetivas do que possa parecer. É um pouco mais imaginativa.

Apesar do senso comum de que ciência e misticismo não devem fundir-se, há uma força natural para a comunhão entre matemática e meditação, entre o qualitativo e o quantitativo – presenciamos isso nos diagnósticos que fazemos sobre cultura e relacionamento com colaboradores.

Pois bem, se hoje pesquisas mostram que os profissionais estão desconectados da missão e dos valores das organizações, começa a surgir uma nova ética no ambiente dos negócios, que privilegia o sentido da nossa existência e por consequência das organizações. Por isso, um capitalismo consciente, onde a geração do lucro não se sobreponha aos ganhos sociais, ambientais, culturais e espirituais. É uma ampliação do conceito de sustentabilidade.

Citando a frase de Mário Sérgio Cortella, “a ambição faz a humanidade crescer, a ganância, regredir”, Fernando disse que há emoções tóxicas no ambiente de trabalho: gente descontente, estressada e deprimida, transformam-se em “zumbis corporativos”, que não geram valor, mas que impactam no valor.

Então, a recomendação de todos é nos voltarmos para o propósito. Celso nos explicou que a sociedade criativa demanda desfazer dogmas, um deles sempre muito presente na religião católica de que corpo e alma são dissociáveis. Dentro da espiritualidade, somos corpo e alma. “Sempre uso a metáfora do alpinista, precisamos de pontos de apoio, os ganchos na montanha, para avançarmos e confiarmos”, disse Celso.

Propósito e significado: o papel da comunicação

Tratamos a questão do engajamento como mais uma coisa por fazer, quando na verdade agimos por intuição. A palavra servir precisa estar presente. Por exemplo, disse Celso, “estamos experimentando trabalhar a espiritualidade em momentos de reflexão, por meio de dinâmicas em grupo. Com eu faço o amor ao próximo se reverter em prática corporativa? Pelo cordialidade, pelo respeito, pelo bem tratar”, afirma ele.

“Como faço parte da Diretoria de Gestão de Pessoas, pretendemos medir nossos avanços pelo clima organizacional e pela satisfação do cliente”, disse Celso. “Precisamos também de líderes que cuidem de pessoas, que se preparem para transcender suas funções técnicas. Cada vez mais vamos gerir pela multiplicidade, não conseguimos tocar 100% do público o temo todo”, por isso recomendou ao grupo:

. Adotar olhar múltiplo, porque somos diferentes e pensamos diferente;

. Cuidar das pessoas;

. Cuidar de quem cuida.

Esse olhar altruísta determinará a escolha de conteúdos a comunicar e consequentemente as abordagens que deveremos trabalhar.

Agradecemos a Celso e Fernando pela presença!

Celso Benedito Tomba é Coordenador Corporativo de Espiritualidade da Associação Congregação de Santa Catarina (ACSC). Especialista em Gestão Educacional; graduado em Ciências Sociais e Pedagogia soma experiência de 30 anos em Educação, especialmente em Coordenação Pedagógica na Educação Básica.

Fernando Ferragino é jornalista com Pós-Graduação e MBA em Comunicação Empresarial, faz parte da equipe de comunicação da Associação Congregação de Santa Catarina (ACSC) e editor do blog www.espiritualidadenosnegocios.com.br